quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Hora de dormir

- Mamãe, me conta uma história
- Conto
- E mais uma?
- Só mais uma
- Me traz uma água?
- Trago, mas depois chega de enrolar. Está tarde
- Ai, que fome. Queria tanto um queijinho
- Filha, é a última coisa. Também estou cansada
- Estou me sentindo tão sozinha. Me abraça?
- Pedindo assim, né? Pronto, agora a mamãe vai
- Não. Por favor...
- Filha, sem choro, agora chega!
- Por favor...
- A louça está me esperando na pia. Ainda tenho que fechar as janelas da sala também
- Então mais uma história e um beijo e eu prometo que paro
- Era uma vez...
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- Pai?
- Hum?
- Você tira a mamãe da minha cama? Ela está roncando e roubou todo o meu cobertor.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Maternopatia

- Mãe, quero água
- Pode pegar na geladeira, Alice
- Pega para mim?
- Sim. Deixa só eu trocar a roupa do seu irmão
- Não quero trocar de roupa 
- Precisa, volta aqui, caiu suco de uva na camiseta
- Quero água...
- E o "por favor"?
- Por favor
- Um momento. Bernardo, volta aqui em um, dooois, trêêêês. Volta aqui já! Pronto
- Mãe, estou com sede
- Já escutei. Aqui está a água
- Mãe, e eu estou com fome
- Quer sanduíche?
- Não
- Iogurte?
- Não
- Cenourinha
- Não
- Então o que?
- Sanduíche
- Gente, pra que facilitar, né? Se...
- Aaaaaaaaai
- Que foi?
- Cortei meu dedo
- Meu amor. Vem lavar com água e sabão
- Xixi, xixi, xixi...
- Vai no outro banheiro
- Xixiiiiiiiii
- Gente, vamos relaxar? São nove horas e ainda nem consegui pentear meus cabelos. Que foi, Alice, por que o choro?
- Por...que...vo...cê....fi...cou...bra...va
- Não fiquei brava. Só estou cansada
- Mãe?
- Que?
- O sanduíche caiu na privada.
- Gente! Chega! Dez minutos. Eu preciso de dez minutos de silêncio completo e glacial. Deu pra entender?
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- Crianças, está tudo bem?
- Sim. Por que?
- Sei lá, muito silêncio 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Amar é...

- Amor?
- Hum
- Lembra da comemoração do nosso primeiro aniversário de casamento?
- Inesquecível
- Final de semana na serra...
- Restaurante francês...
- Juras de amor...
- Pousada com lareira...
- Noite sem fim
- Nem parece que já passaram-se dez anos
- Nem fala
- Tem alguma idéia do que podemos fazer amanhã?
- Combinei com a baby sitter, aquela que as crianças gostam
- Uau, bodas...
- Pizza?
- Debaixo das cobertas?
- Filme?
- Manhã sem hora para acordar?
- Perfeito
- Você leu meus pensamentos
- Te amo




quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

E viva o circo!

- Que triste tudo o que está acontecendo na Venezuela, né?
- Nem fala, chocante
- E a situação dos médicos escravos de Cuba?
- Absurdo. Não sei se fico mais perplexa com isso ou com a doação milionária do Brasil ao porto dos Castros
- Pois é
- Está tudo bem com o Paulo? Ele está meio...
- Ele não tem falado muito desde a desvalorização da Petrobras na Bolsa. Perambula de lá para cá e solta grunhidos esparsos na maior parte do dia
- Puxa. Me passa o arroz?
- Claro. Você e o Júlio precisam experimentar esta carne de panela
- Ah, eu aceito
- Eu não Lara. Ando com azia. Obrigada
- Também, com tanta loucura neste mundo. Vocês viram as manifestações na Ucrânia 
- Gruinhfru
- Viu? Grunhidos
- Pobre Paulo
- Vimos sim. Pra lá do oceano as coisas também não andam fáceis
- Onde vamos parar? Onde vamos parar?
- Que horas são?
- Nove
- A novela!
- Não posso perder!
- Adoro, adoro!
- Cadê o controle? É hoje que o Mauro pega Janice no flagra
- Ali Paulo, o controle está em cima do sofá.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cartão de visita

- Na verdade, me formei na faculdade aos vinte anos, após ser laureada
- Puxa
- Justamente por isso, ganhei uma bolsa para estudar Relações Internacionais em Oxford. Depois, fui para Harvard fazer um MBA em Ciências Políticas
- Uau
- Então, a convite de uma multinacional, voltei para o Brasil, onde ainda fiz mestrado, doutorado e pós-doutorado
- U-hum
- E foi seguindo esta trajetória que fui alçada a CEO antes dos quarenta anos
- Que sucesso
- Hoje ainda preciso encontrar tempo para cuidar dos meus investimentos em ações, imóveis...
- Nossa
- Fora que realizo trabalho voluntário no Banco de Sangue, estimulando a doação de plaquetas pela população em geral
- E neste meio tempo você ainda teve a Laurinha
- Isso. Aliás, deixei ela brincando na casa de um colega. Deixa eu ligar para ver como ela está
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- Alô?
- Alô, oi, aqui é a Analise
- Quem?
- A Analise Freire
- Desculpe....
- A-na-li... Esquece, aqui é a mãe da Laurinha
- Ah, oi querida, tudo bem?