Na aula de pompoarismo para iniciantes, a instrutora estendia-se na explicação teórica sobre as bolinhas tailandesas. Não contendo a curiosidade sobre a vida do outro, duas alunas iniciaram uma conversa entre sussurros.
- Interessante, né?
- Muito. Vamos ver se funciona mesmo
- Pois é. Casada?
- Sim. Há quarenta anos. Preciso apimentar meu dia-a-dia, se é que você me entende
- Entendo bem
- Mas você me parece tão nova. Recém casada, talvez...
- Tenho filhos pequenos
- Ih!
- E fui pra quinto plano, após as crianças, a casa, o marido e o casamento
- Já passei por isso. O problema é a quarentena virando noventena?
- Não, desta fase já passei
- O cheiro de leite e as unhas descascadas?
- Já tenho tempo de fazer as unhas a cada dois meses...
- Parabéns! Quem sabe então os bocejos em momentos inapropriados?
- Isso passa um dia?
- Ahã
- Bom saber. Mas não é o motivo
- A falta de tempo para conversar com o marido? As roupas largas? A exaustão? O humor?
- Tudo parte da minha vida, mas não...
- Estou curiosa. Que motivo pode ser mais urgente do que estes?
- Foi o seguinte: numa noite da semana passada, meu marido chegou em casa e, após deitarmos as crianças, servi o jantar
- Tá
- E começamos a conversar. Ele me contou sobre o dia no trabalho, relacionando os acontecimentos ao cenário político-econômico do país
- Certo
- Depois ele me perguntou "E seu dia? Quais as novidades?"
- E...?
- "Aconteceu uma coisa estranha. Foi na fralda da Eduarda..."
- Você colocou as palavras 'novidade' e 'fralda' na mesma frase?
- Pois é. Nem sei se é tão grave assim ou se estou exagerando, porque...
- Querida...
- Que?
- Shhhh. Presta bastante atenção na aula