sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Fátima procura
sábado, 6 de dezembro de 2014
Feliz 2015
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Uma sociedade hipatética
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Desencontros
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Quem tem medo do lobo mau?
terça-feira, 25 de novembro de 2014
@eu
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Ô tia, tipo assim
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Foco
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Intimidade
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
It empreendedorismo
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Alô polícia, eu tô usando...
Antes mesmo de sabermos escrever nossos nomes, já fazíamos em grupo a coreografia de 'Não se reprima'. Roy e Ricky cantavam freneticamente disputando a preferência do toca discos apenas com o pato, a foca e a coruja que habitavam a 'Arca de Noé'. Mais tarde, decoramos o alfabeto, lembrando que a era amor, bê, baixinho e cê, coração. Se você fora um bebê Johnson's, agora provavelmente transformara-se numa potencial paquita (existia paquito?). Mas de qualquer forma, como não havia garantias de mandar um beijo pro seu pai, outro para a sua mãe e mais um 'para você', tratou de decorar o primeiro telefone da sua vida - 236-0873 -, na eterna esperança do número chamar e você ganhar uma Caloi.
Se alguém da sua classe tivesse muitas canetas coloridas no estojo, certamente seriam importadas. Esta palavra, antes da China-mania, exercia verdadeiro fascínio aos olhos infantis. No mundo importado habitavam a Hello Kitty, os adesivos com glitter, o videocassete com controle remoto e o microondas. Os meninos, que desde sempre foram vidrados em carros, sabiam de cor e salteado as cinco marcas que existiam no mercado à época e conversavam sobre o assunto no recreio, enquanto as meninas batiam papéis de carta.
Quando os pais saiam sábado à noite, era o momento de ficar acordada até tarde assistindo Viva a Noite, viva, viva e cantando a onda da galinha azul. Mas bom mesmo era faltar na escola, encostando a parte de mercúrio do termômetro no abajour. Com sorte, 'A Coisa' ou 'Os Goonies' passariam pela primeira vez na televisão.
Você era muito moderna de calça semi baggy, Keds, cabelos para o lado e topete. Jogava pogobol à tarde e já podia frequentar matinês das baladas. Alguns meninos poderiam sussurrar ao seu ouvido "meu amigo quer ficar com você" ao som de Dance Music e passos para lá e para cá. E sabia dançar muito bem, afinal, não perdia um bailinho da escola e raramente ficava com a vassoura, enquanto o dj tocava Like a Virgin e Calcinha Exocet.
Se é meu contemporâneo, gravava músicas do rádio na fita cassete, teve walk-man, tamagoshi, decorou como conseguir mais moedas no Super Mario Bros, vibrou com o 486 e muito mais tarde, o início da parte liberal e independente da sua vida teve como pano de fundo cinco inseparáveis amigos de Manhattan.
Podem chamar os anos oitenta de bregas e os noventa de 'quase tanto quanto'. Mas foram tempos incríveis. E nós saímos praticamente ilesos.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Tempero a parte
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Passaporte marciano
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Castelos de areia
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Dama, rei e curinga
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Felicidade em vinte vezes sem juros
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Brigadeiro de colher
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Terapia de casal
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
O planeta sem margarina
Uma das mudanças mais interessantes que a maternidade proporciona é a intimidade súbita entre mães: você sentada numa mesa de restaurante, quando chega outra mulher com duas crianças a tiracolo, uma berrando, a outra pedindo para fazer xixi e imediatamente vocês se reconhecem sorrindo mutuamente, como que dizendo "Olá conterrânea planetária". Sim, porque se os homens são de Marte e as mulheres de Vênus, as mães definitivamente compõem uma subclasse distinta, ocupando uma extensa região do planeta feminino ou até, outro astro todinho delas.
E uma vez inseridas na categoria, ou advindas da tal região extraterrestre, passam a trocam intimidades como se fossem amigas de infância:
- Acho que a pega do meu bebê não esta correta. Ui. Arde quando ele mama.
- Peraí, eu te ajudo. Isso, senta mais para lá, deixa o seio nesta posição. Ahã, posso mexer? OK, isso. Viu?
- Nossa, ficou perfeito.
E assim, numa fase em que você considera que 'O que esperar quando se está esperando' mereceria o Nobel de literatura, que a única política interessante é a de trocas e devoluções da loja infantil mais próxima e na sua última viagem mal notou a paisagem, mas tirou quatrocentas e vinte fotos do seu filho, vocês tem umas às outras, já que para o resto da sociedade passaram a ser aquela mulher que 'Afe, não fala de outra coisa'.
- Vocês viram a situação da Ucrânia?
- Ahã.
- Hum... Não muito.
- Gente, faz oito dias que o Fabinho acorda de três em três horas a noite toda.
- Não acredito, já tentou o Nana Nenê? Tem gente que detesta mas em casa funcionou.
- Eu prefiro a técnica da Encantadora de Bebês. Quando ele chorar, entra no quarto...
O mercado já notou esta explosão de hormônios e necessidade de agregação, passando a oferecer serviços voltados para o público materno:
- Esta hidrodinástica é ótima, a gravidez me deixa com retenção de líquidos
- Isso que você ainda está no segundo trimestre. Eu mal ando. Sexo então, nem pensar.
- Aliás, prazer, Anabela
- Prazer, Juliana
Então, passada a fúria da carapuça que vestiu com o tal texto, resolvi relaxar. Afinal, cada um que converse com seus iguais. Quem sabe um dia, conterrâneas, também não sentemos numa tarde silenciosa, jogando conversa fora, discutindo política, Nobel de literatura e viagens culturais? E quando bater a fome:
- Garçom, me traz uma porção de margarina?
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Varal bege
Da janela da área de serviço, conseguia enxergar o que se passava no apartamento dos vizinhos. Era a parte lateral do pequeno edifício e onde encontravam-se os estendedores de roupas do 101 ao 804.
Sabia, por exemplo, que a vizinha do 502 era artista, pelos aventais manchados de tinta. O casal do 404 era metódico, combinavam sempre os pijamas e a roupa de cama. O estendedor na janela do senhor do 704, quase sempre vazia, denunciava que ele devia mandar as roupas para uma lavanderia ou simplesmente, a esta altura da vida, tinha desistido de cheirar a sabão em pó. A vizinha ruiva do 303 - intrigante - lavava apenas lingerie. A família do 201 tinha acabado de aumentar. O rapaz do 703 terminara um relacionamento. O extravagante músico do 803 misturava roupas coloridas às brancas na máquina de lavar. A senhora de meia idade do 202 aumentara consideravelmente o tamanho dos seios. Os recém casados do 401 eram fãs de chantilly. E Ana imaginava se os vizinhos também conseguiam desvendar pequenos detalhes da vida dela analisando seu varal, monótono, coberto de roupas de tom bege.
O curioso, no entanto, é que apesar da intimidade exposta no edifício Saint Tropez, os vizinhos cumprimentavam-se apenas com um aceno de cabeça e no máximo um "Esfriou, né?" ao cruzarem-se nos corredores, no elevador ou na garagem. Sabiam a cor da roupa íntima que o outro usava, detalhes de sua vida privada, de sua situação estomacal, mas não ousavam cruzar a barreira do manual politicamente correto da impessoal vida em cidade grande:
- Olá
- Boa noite
- Tchau
- Até mais
Então chegou o dia da reunião de condomínio, que ocorria a cada seis meses sempre convocada pelo síndico, o senhor de poucas roupas no varal. Ana desceu de roupa bege e um rabo de cavalo, exatamente como seu varal sugeriria a um vizinho mais atento.
Foi lida a pauta do encontro e, após definirem repintar o teto azul do hall, podar o Ficus da entrada e escolher um local apropriado para o carrinho de compras, abriram o espaço para assuntos gerais. O rapaz do 703 começou:
- Temos vizinhos que não respeitam o horário de silêncio...
- Ih começou!
- Sim, comecei. Gosto de dormir cedo.
- Cara, é minha profissão. Pior você, que não recolhe as necessidades de seu cão na calçada.
A senhora dos seios grandes entrou no debate:
- Não critiquem os animais, não critiquem os animais.
- Ah é, minha senhora? E seu papagaio que imita o som de assoar o nariz?
- Imita do vizinho de cima.
- Eu?
- Sim. Poderia ser mais silencioso, não?
- Minhas intimidades não dizem respeito a você.
E os ânimos começaram a se exaltar. Levantaram-se, xingaram gerações anteriores e futuras, apontaram o dedo para imperfeições diversas. Ana permanecia observando. Até que pisaram em seu calo:
- Culpa da vizinha bege!
- Eu?
- Sim. Sua cantoria no banheiro é absolutamente irritante.
- Irritante é olhar suas calcinhas minúsculas e multicoloridas dia após dia!
- Invejosa!
- Exibida!
No instante seguinte, estavam rolando pelo chão, puxando os cabelos uma da outra. A vizinha da lingerie teve um apoio maciço do público masculino, o que deixou a noiva do 401 visivelmente alterada (provavelmente esta noite não teria chantilly). O síndico pediu a palavra:
- Agradeço a presença de todos, mas já são dez da noite. Assuntos pendentes serão tratados na próxima reunião e assim, dou por encerrado este encontro.
Todos levantaram-se, pegaram seus pertences e saíram porta afora. Dividiram o corredor e o elevador como desconhecidos, com rostos plácidos e seguindo o protocolo politicamente correto da vida em cidade grande, despediram-se:
- Boa noite
- Tchau
Ana entrou em seu apartamento e foi direto recolher as roupas do varal. 'Vizinha bege' era demais, a sirigaita do 303 que aguardasse a próxima reunião. E até mais.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Cada coisa em seu lugar
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Porque sim
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Patotas
Nos últimos tempos, seus amigos passaram a ser os pais dos amigos de seus filhos, pessoas cujas afinidades resumiam-se a dissertar sobre a didática da professora, a linha pedagógica do colégio, a malignidade do glúten e a mãe do Fabio que não tinha vergonha na cara. Era isso: ela pensava em seus filhos vinte e quatro horas por dia e sua vida social também resumia-se a manifestos maternos.
Com a premissa de comemorar as bodas da formatura, finalmente seria despertada a Clara que levantava bandeiras, que devorava livros em cuja capa não constavam barrigas de nove meses, que discorria sobre assuntos culturais diversos e que cantarolava músicas da Adriana Calcanhoto ao invés da Partimpim. Sabia que, da antiga turma, poucos sequer estavam casados e certamente mantinham o ar reacionário de outrora, tempo em que ela também avaliava seriamente a possibilidade de mudar o mundo. Até conhecer o Rodrigo, casar, engravidar, fazer cursos de papinhas orgânicas e mudar o seu mundo.
No dia do encontro, Rodrigo ficara encarregado de cuidar das crianças e, ainda beliscando-se para checar a veracidade do momento, Clara bateu a porta de casa e saiu. Voltou horas depois, um pouco antes da meia-noite.
- Já?
- Sim. Acredita que hoje em dia tem trânsito neste horário?
- Como foi o encontro?
- Demais!
E discorreu sobre a emoção de rever antigos amigos, sobre como pouco haviam mudado. Discutiram sobre os tempos atuais, relacionaram Maquiavel com Simone de Beauvoir, Baudelaire com Valeska Popozuda e pré-sal com festa rave. Um pouco depois do início da animada conversa, chegou a Julia, pedindo desculpas pelo atraso e já dando as boas novas: estava grávida. Todos ficaram felizes, brindaram com seus copos de cachaça enquanto a gestante pedia uma água sem gás. Clara mal pôde conter a emoção. Chamou Julia para sentar a seu lado e iniciaram uma animada conversa sobre enjôos matinais, planos de parto e peças indispensáveis no enxoval. Como a conversa dos demais estava muito alta, elas logo mudaram-se para outra mesa, na ala de não fumantes. Ainda pediram um café descafeinado antes de despedirem-se do resto do pessoal que àquela altura, falava sobre sei lá o quê. Na saída, combinaram de encontrarem-se novamente. Tinham muitos assuntos em comum e de fato, Clara ainda precisava falar com ela sobre sobre linhas pedagógicas, a malignidade do glúten e, quem sabe, apresentá-la para as mães dos amigos de seus filhos.
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Ideologia: aplicação prática
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Life is...
quinta-feira, 17 de julho de 2014
De 2014 para 1968
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Idade: vide bula
terça-feira, 15 de julho de 2014
Forma, conteúdo e rúculas
domingo, 13 de julho de 2014
Protocolando
terça-feira, 8 de julho de 2014
Papéis de carta
sábado, 28 de junho de 2014
Sobre opiniões e papagaios
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Camembert verde e amarelo
terça-feira, 24 de junho de 2014
Eu não te pertenço
Seria perfeito, se não houvesse um porém: você não pertence a mim. E da mesma forma, eu não pertenço a você. Eu te escolhi.
Quando o vi pela a primeira vez, meu coração afundou, minha perna tremeu e eu te escolhi. Naquela noite em que não ouvimos os fogos de artifício, eu te escolhi. Quando chorei incontáveis semanas por sua ausência, eu te escolhi. Quando eu estava com outra pessoa, pensando em você, eu te escolhi. Quando sem querer perder mais tempo, liguei te convidando para sair, você lembra, né? Eu te escolhi.
Eu não tinha vinte anos, assistia Dawson's Creek, tinha pijama com cara de urso e uma insegurança do tamanho do mundo. E você me abraçou. Por isso, eu te escolhi. Você rodou o mundo, dormiu no chão na Índia e mochilou até o Himalaia. Eu queria ter sido hippie, mas nunca fui. Por admiração, te escolhi.
Com você, mudei de estado, me arrependi e chorei trezentos e sessenta e cinco dias seguidos. Você me compreendeu em todos eles e de novo, eu te escolhi.
Sei que prefere ficar em casa, ficção científica, Frank Herbert e Bucowski. Eu prefiro sair, drama, Antônio Prata e Luis Fernando Veríssimo. O que seria do amarelo se todos gostassem de vermelho? Te escolhi.
Você encontra-se na bagunça, eu tenho obsessão por organização. Não, nesses momentos eu não te escolho. E não te escolho em muitos outros. Às vezes, tenho vontade de jogar uma daquelas cadeiras pesadas da sala em sua direção. Principalmente quando age com a cabeça dura ou resolve falar alto demais para os padrões de uma mulher que foi criada sem homens em casa. Ah, e quando eu - também cabeça dura - ignoro o mundo, quebro a cara e você aparece com "eu disse...". Então, eu não te escolho. Por algumas horas. Depois eu choro, porque na verdade, fico com saudades, lembrando que te escolhi.
Por você ser a pessoa mais inteligente que eu já conheci. Por não precisarmos fingir: eu durmo de meias, durmo no meio dos seus filmes preferidos e durmo durante as conversas noturnas. Porque com você, o silêncio não é inoportuno. Porque temos liberdade de falar sobre qualquer assunto. Porque já passamos juntos por momentos espetaculares. Porque já passamos juntos por momentos terríveis. Porque você compra as minhas brigas. Porque seus olhos mudam de acordo com seu humor. E porque, mesmo a cor dos meus não mudando, você sabe reconhecer os dias em que eu não quero falar. Porque você prefere meu cabelo do jeito que ele é, meu corpo do jeito que ele é e a Nurit do jeito que ela é. Eu te escolhi.
Nos próximos dias, serão onze anos desde o dia em que eu disse que nós pertencíamos um ao outro. Eu não te pertenço, mas te escolho todos os dias da minha vida.