Mario chegava em casa por volta das oito, sempre saudado por Ana e festejado pelas crianças. A esposa temperava o jantar, escutando o trio na sala a cantar. Comiam, conversavam, discutiam. Ana tirava a mesa, Mario entrava no banho, crianças direto para a cama. Beijos de boa-noite, pés juntos sob as cobertas, silêncio. Dormiam felizes.
- Não quero me intrometer, mas...
- O que?
- Vivemos numa época em que não faz sentido a mulher cuidar sozinha das tarefas do lar. Mario bem que poderia ajudá-la com a louça ao final do dia
- É, por uma lado...
Mario chegava em casa por volta das oito, sempre saudado por Ana e festejado pelas crianças. A esposa temperava o jantar, escutando o trio na sala a cantar. Comiam, conversavam, discutiam. Ana tirava a mesa, Mario ajudava. Mais tarde, entrava no banho. Crianças iam já bem cansadas para a cama. Beijos de boa-noite, os pés de Ana estavam sempre gelados, silêncio. Dormiam.
- Não é por nada
- O que?
- Você tempera o jantar enquanto o resto da família fica na sala a cantar?
- Tem razão...
Mario chegava em casa por volta das oito, sempre saudado por Ana e festejado pelas crianças. Mario temperava o jantar, Ana arrumava a sala, as crianças assistiam televisão. Comiam, conversavam, discutiam. Ana tirava a mesa, Mario ajudava. Mais tarde, entrava no banho. Crianças entediadas choravam ao irem para a cama. Beijos de boa-noite, os pés de Ana estavam sempre gelados o que, segundo ela, lhe causava dores de cabeça. Silêncio. Mario tinha insônia, o resto da casa dormia.
- Estou há tempos para lhe dizer
- O que?
- A família tem reclamado de vocês, nem ligam para saber dos demais. Tia Maria, por exemplo, anda atacada da artrite. Ruth então, vive perguntando pelas crianças
- Puxa...
Mario chegava em casa por volta das oito, Ana lhe passava a ligação, era tia Maria. As crianças não gostavam falar ao telefone, onde já se viu? Alguém esquentava a lasanha congelada, Mario preferia não jantar. Ligavam para Ruth. Crianças direto para a cama. Ana deitava em silêncio, Mario já dormia sob o efeito de remédios.
- O que tem seus filhos?
- Por que?
- Nunca querem falar no telefone
Mario chegava em casa por volta das oito, Ana acenava com a cabeça. As crianças falavam por telefone com o novo papagaio da Ruth, comiam um sanduíche. Silêncio. Cada um dormia em seu quarto.
- Vocês estão em crise?
- Como você sabe?
- O papagaio da Ruth
- Ah...
- Posso dar uma sugestão?
- Ahã
- Passem mais tempo juntos, criem a rotina de vocês
- Até que é uma boa idéia